13 abril 2007

ziguezague

Não subi na Torre Eiffel. Da cidade-luz, recordo de um frio úmido e cortante. Tampouco freqüentei o bondinho do Pão-de-açúcar, em uma vida de idas e vindas à Terra Natal. A Estátua da Liberdade, avistei a uma distância segura, com quilômetros de mar nos separando. Não me gabo de ter morado em Nova Iorque, grande bosta (porém gosto circular por aí). Em uma tarde chuviscante, quase outono, procurei por duas horas a esquina chamada “Joey Ramone Place”. Não encontrei, perdido nos meandros do Lower East Side, incomuns à quadradidão de Manhattan. Não suporto a quadradidão planejada, Brasília me dá arrepios. Gosto de ladeiras sinuosas, becos estreitos, ruelas escuras. Veneza, Ouro Preto, Olinda. Alto José do Pinho.

Gosto do cheiro de mofo das bibliotecas e do diesel queimado da beira das estradas. Não gosto de ternos, gravatas, sapatos pretos com detalhes dourados. Detesto ar condicionado. Camisa básica, calça básica, tênis de futebol de salão, aquele usado por frevistas, angoleiros e outros brincantes. Gosto do uniforme laranja dos lixeiros cariocas. Roupa básica, beats básicos. Gosto da roda de samba e dos artistas do metrô. Gosto de bandas obscuras de garotos com espinhas. De bandas de garotas gritando hardcore, desafinadas. Odeio reuniões póstumas das minhas bandas preferidas (não quero ver o “novo” show dos Mutantes). A figura decadente de Kim Deal dos Pixies de 2004 me deprimiu. Gosto do Frank Black and the Catholics, da insanidade do Gogol Bordello. Gosto da energia da Orquestra Contemporânea de Olinda ensaiando ao lado da minha casa, do frevo bebop da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério. Gosto de ser incomodado pelo som dos maracatus.

Gosto de lembrar do Mestre João Grande a ensinar um gringo torto a gingar. Gosto de ver o menininho de dois anos plantando bananeira, e aquele outro de seis saindo uniformizado no Afoxé, alfaia em punho.

Quero envelhecer na inevitável renovação das coisas, na novidade das velhas coisas, na perenidade dos sorrisos jovens. Pensam que tenho 10 anos a menos. Não quero, nos entretantos, fazer o esforço patético dos que querem parar no tempo para parecerem ter 10 anos a menos. Botox para os velhos, rugas para os jovens. Por caminhos tortos, vou viver para sempre, como Mestre João Pequeno.

Um comentário:

alessandra disse...

pedro, tu é lovely.
ainda quero te encontrar pelas ruas de novo.