E se eu cansar das narrativas
Abandonar a mania de contar histórias
Deixar de vez
Para trás
Essa idéia antiquada
De ligar fatos por um suposto
Ah- suposto!
Encadeamento lógico?
Que é o tempo senão camadas sobrepostas de espaço?
E se eu largar a poesia
Cansar dos momentos fugidios
Dos flagrantes
De sentimentos profundos
Dos parênteses
E se me enfadarem a seqüência de versos
As ricas rimas desconexas
As aliterações, metáforas e metonímias
Se me encher do ritmo cadenciado?
E se
Mortas
Prosa e poesia
Eu deixar de ver, ouvir, sentir?
Se tudo se transformar em um grande vazio
Deserto
A blank plain gap
E se me faltarem
Os cadernos e os teclados
As palavras, as letras e as linhas?
E se eu quiser terminar?
E se eu desistir do movimento?
Correr
Fugir
Mudar de coordenada
E se eu deixar de ter fé na localização por satélites?
Se eu não mais quiser abandonar
O que não me deixa?
Que é o espaço senão camadas sobrepostas de tempo?
E se eu quiser contar histórias sobre desacontecimentos?
Fazer anti-poesias sobre o que não sinto?
E se eu quiser me desmentir do que sou?
E se eu quiser começar?