05 abril 2007

original olinda style

Manhã de sábado. Seis e meia? Ladeira abaixo, vou à feira dos orgânicos, lá na Rua do Sol. O sol, não está. O homem carrega sua gaiola em direção à praça. As primeiras gotas o fazem dar meia volta, o banho de sol de seu pássaro naufragado na chuva matinal. Haverá ainda a tal feira? Aperto o passo, a chuva aperta. Nas proximidades do Carmo dois garis apressam-se em encher as pás (os garis de Olinda calçam kichutes). Sob a marquise, três moradores de rua ressonam, vigiados por uma mulher-polícia. Viro a esquina e decido esperar a estiagem. A água empoça nos cantos da Rua do Sol. Escolho um local onde não arrisco levar um banho de lama dos ônibus da manhã. A garota no lado oposto da rua faz o mesmo. Pelo jeito, também vai à feira. Me disseram para não ir após às seis e meia. É o fim de feira. Fim da picada, isto é: escolher entre a comida saudável e o sono do sábado. Penso, mas não realizo. É bom, andar nas ruas sábado cedo. A chuva estia, a garota já foi. Perdido em devaneios sonâmbulos, esfrego os olhos e pulo as poças da Rua do Sol, convicto. Encontro uma amiga já voltando, esperando pacientemente sob a marquise o cair dos derradeiros pingos. Buquê de flores na mão, bela visão. Ri-se de minha cara de sono. Avisto a feira, uma dúzia de barracas em semi-círculo na praça da marinha. O sol desponta furioso detrás das nuvens. Compro maracujá, rúcula, um pão de caju. Tomo um suco de abacaxi conversando com o feirante sobre o mel da caatinga. Conheço o cara que vai dar o curso de agrofloresta daqui a duas semanas. Vendia jacas e graviolas. Compro o último buquê de flores na barraca ao lado. “Um cheiro para a sua mãe”, a feirante diz para o freguês. Sete e pouco da manhã. Na minha terra, esse é o sol do meio dia. Minha terra, qual é? Desterro. No caminho da volta reparo novamente no sono dos moradores de rua. A policial não está mais lá. Subo a ladeira pensando pássaros e gaiolas. Ofereço o buquê a uma moça imaginária que não passa por mim na subida da Misericórdia. Do alto da Cidade Alta, avisto Olinda, Recife e o mar. Entro em casa, é hora do café.

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