22 maio 2007

borboleta



A filha achou uma borboleta moribunda no quintal. Uma mariposa, corrigiu. Preta e amarela. Pôs num frasco com furinhos, cheio de flores. Pra cuidar dela. A mãe informou-lhe que o bichinho não durava muito. Perguntasse ao pai, que era biólogo. O pai considerou o ataque de um gato, de uma lagartixa. Ou era chegada mesmo a sua hora, morrer de velha. Ela desconversou. Queria cuidar da mariposa, do pote e das flores. Era o que tinha a se fazer.

O pai, quando da sua idade (soube depois), fazia o mesmo com besouros. Punha-os todos numa caixa com terra, mini-fazenda. Queria cuidar deles, já virando de barriga pra cima. Não entendia porque morriam depois de dois ou três dias. Cresceu, virou-se em biólogo e descobriu o contrário: o frasco matador, um pote semelhante, éter em vez de flores. Genocídio, espetando-os em alfinetes entomológicos, para o bem da ciência. Logo desistiu dessa vida criminosa, deixou de olhar os insetos. Mas veio a filha, a quem teve de ensinar sobre as formigas, tatuzinhos e libélulas.

A mariposa, por mais amada que, morreu, enfim. O pai em viagem, ligou. A filha informou o fato, após muita conversa. Ficou um pouco triste, disse. Enquanto falava ao telefone, desenhava urubus voando no céu, em círculo.

Desligou o telefone e foi andar de bicicleta.


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