25 setembro 2007

Dia desses

(A Bob Dylan)


Saí de casa com pressa

Desci a ladeira atrasado

Pensamentos perseguindo minha manhã

No muro do mercado Eufrásio

Passei ao lado do leão pintado

Comendo uma lata de goiabada Leão

O café feito petróleo

Engolido em um só trago

Dessa vez não me queimou o estômago

Mas também não me acordou

O ponto estava cheio

E o coletivo abarrotado

Não parou quando acenei

Olhei no pulso sem relógio

Respirei fumaça com a velha do meu lado

Reclamando do preço da passagem

Então mandei às favas

Meus carimbos e formulário

Meu café de escriturário

Minhas intrigas de horário comercial

Atravessei a Sigismundo

Sentei na beira do mar

E te materializei

Bebendo um mate no silêncio velado dos milagres

danger

20 setembro 2007

hai kai

se a barra pesa
um recomeço
com leveza

14 setembro 2007

treino d'angola

negativa
negativa
negativa

[até aqui, tudo bem]

negativa, rasteira, rabo de arraia
negativa, rasteira, rabo de arraia
negativa, rasteira, rabo de arraia

[o suor começa a pingar]

negativa, rasteira, rabo de arraia, negativa, vira o jogo
negativa, rasteira, rabo de arraia, negativa, vira o jogo
negativa, rasteira, rabo de arraia, negativa, vira o jogo

[respira que dá]

negativa, rasteira, rabo de arraia, negativa, vira o jogo, queda de rim, tesoura
negativa, rasteira, rabo de arraia, negativa, vira o jogo, queda de rim, tesoura
negativa, rasteira, rabo de arraia, negativa, vira o jogo, queda de rim, tesoura

[o braço começa a tremer]

queda de rim
queda de rim
queda de rim

[ai de mim]

queda de rim!
queda de rim!
queda de rim!

[escorrego na poça de suor]

queda de rim, ponte, tesoura

[está acabando?]

queda de rim, ponte, tesoura

[estou me acabando]

queda de rim, ponte, tesoura

[a visão está turva]

mais uma
mais uma
mais uma

mais uma.

vamos andar...

e ginga.

13 setembro 2007

05 setembro 2007

Fluvial







(para Alice)



Um barco
uma canoa pequena
cheia de gente morena
semblante compenetrado

O outro
jaz no barranco, arredio
esperando a cheia do rio
trinta e dois pés elevado

A minha
motor de cinco agapê
enquanto penso em você
passo por ambos calado

Descubro
que quando de algo se priva
mesmo sem chão pra maniva
o rio chega no mar

No rumo
do rio-abaixo da vida
sei que não estou à deriva
na praia vou te encontrar.

anthropological dark blues experience

Vivo no pós-mundo onde bob dylan janis joplin jimi hendrix estão no livro didático da escola do pós-seringal ensinados por professores fãs da novela das oito com ares de politicamente correta.

Vivo no pós-mundo de hippies punks guerrilheiros semivivos nos livros de história. totens de um futuro do pretérito. mais que consumíveis: consumidos.

Vivo no pós-mundo onde não há diferença entre bob dylan e novela das oito. são todos produtos importados apresentados aos moleques num ar cheirando a queimada crack incenso shopping center.

Vivo no pós-mundo
do amor fugaz
dos calmantes
Dos anti-depressivos.
Da guerra mal disfarçada de multiculturalidade.
Do controle remoto: encontros desencontros reencontros.
Dos ricos do jet set/ dos pobres do trecho:
ainda ricos/ ainda pobres.

Da casa sem grades da comunidade ribeirinha, ouço um hino evangélico a cem metros de distância. o sol mais quente/ o rio mais seco. comi jabuti pato galinha apresuntado em lata. assisti ao penúltimo capítulo da novela da outra emissora- a crente. ao som do gerador tiroteio mimético em favela-cenário. os olhos das crinaças do pós-seringal brilhavam de emoção à queda dos bandidos metralhados e do comercial de leite condensado.

Dia desses eu ouvia bob dylan em mp3 anestesiado pendurado num ônibus lotado do recife.
Hoje molhei os pés na canoa que fazia água no rio juruá, mariscando.

Meu lugar não é aqui, não é lá. É no caminho. Se é que há.

Amazônica


Pium
Jurubeba e capa-bode
Carapanã me acorde
Malária já pegou um

Arraia
Espora pior que cobra
Catuquim tem sua hora
Urtiga e bicho de pé.

A vida é.