18 outubro 2011

Travalínguas

O peito do pai do pobre é preto

O viagra agravou a greve do vigário

O rico roeu a renda do pé-rapado

Três trouxas trincados trouxeram trabalho ao traficante

22 setembro 2011

cidadania


A cidade era feia.
O menino gostava da cidade.

A cidade enfeiou o menino.
Botou-lhe roupa maltrapilha, cicatrizes e bicho de pé.
Tirou-lhe pai, mãe e dentes.
Em retribuição, o menino virou luz.
Viram-no subindo aos céus com asas encardidas.

A cidade, então, gostou de enfeiar meninos.

E todos viveram felizes para sempre.


07 julho 2011

Quem diria
a Grande Beleza se mostra
quando não há mais poesia

09 junho 2011

a seco



Tanto já falaram do sertão que cansei. Fui ao sertão. Ceguei-me, suei, amoleci o corpo. Lambuzei-me de umbu e carne de bode. Muito vi. Pouco falei. Pus-me dentro de mim, sertão de Riobaldo. Agora pois, escrevo. O sertão não me pertence. De sertão, às vezes padeço. E esqueço. Vastidão, carrasco e veredas. Um rio que morre antes do mar. Barreiro. Tanto falaram do sertão que nem sei. Voltei do sertão. Cheguei. Longe dos espinhos, esqueci do que deixei. Galhada seca, calei. Fulora? Quando chover, saberei.

23 maio 2011

Cadê Geraldo


Cadê Geraldo?

de Pulião?

Saiu bem cedo

Pelo portão.


Cadê Geraldo?

O folião?

Tava na praça

Chapéu na mão.


Eu vi Geraldo

De bicicleta

Levando um doce

Pra sua neta.


Eu vi Geraldo

Com o Festeiro

Batendo tambor

No Alto do Cruzeiro.


Eu vi Geraldo

Como menino

Guardando o Império

Na Festa do Divino.


Cadê Geraldo?

Que não vi mais?

Tá lá na frente?

Vortô pra trás?


Eu vi Geraldo

Agora mêis

Foi se encontrar

c'os Santos Reis.


Se vi Geraldo?

E seu chapéu?

Ele sorria

Subindo ao céu.



14 maio 2011

Tempo

Ontem é dia
o tempo dizia
sem olhar pra trás

Hoje será tarde demais

03 maio 2011

Pai

A primeira, lá

A segunda, aqui

A terceira virá


A primeira é cor

A segunda é som

A terceira:

Quem será?

Coleção outono-inverno

A roupa sua no varal

A roupa suja no cesto

O teto da cozinha: pinga

A gata se esconde no armário

O fundo do quintal: lama

Parede do banheiro: mina


A cidade-estuário se afoga

Congestionamentosmentosmentos

Vidros fechados, embaçados

Viroses

Bicicletas, capas de chuva

Leptospiroses


Eu, cachorro molhado

Coleção outono-inverno


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